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ogum |
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são jorge | lenda de ogum |
Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior.
Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área de lavoura. Ossain, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossain, todos os outros Orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio. Ogun, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos os outros Orixás tinham fracassado, Ogun pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os Orixás, admirados, perguntaram a Ogun de que material era feito tão resistente facão. Ogun respondeu que era o ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os Orixás invejaram Ogun pelos benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, como à caça e até mesmo à guerra.
Por muito tempo os Orixás importunaram Ogun para saber do segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só para si. Os Orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca do que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogun aceitou a proposta. Os humanos também vieram a Ogun pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogun lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram sua ança de ferro. Mas, apesar de Ogun ter aceitado o comendo dos Orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os Orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogun se decepcionou com os Orixás, pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que não era digno de governá-los. Então Ogun banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da arvore de Acoco e lá permaneceu. Os humanos que receberam deOgun o segredo do ferro não o esqueceram. Todo mês de dezembro, celebravam a festa de Uidê Ogun. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogun. Ogun é o senhor do ferro para sempre. [ Lenda 31 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
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xangô |
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são geronimo |
Xangô cumpre a promessa feita a Oxum
Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento. Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: “- Veja, eu já cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no pescoço para sempre.”
(2)
Xangô torna-se Orixá
Xangô vivia em seu reino com suas 3 mulheres ( Iansã, Oxum e Obá ), muitos servos, exércitos, gado e riquezas. Certo dia, ele subiu num morro próximo, junto com Iansã; ele queria testar um feitiço que inventara para lançar raios muito fortes. Quando recitou a fórmula, ouviu-se uma série de estrondos e muitos raios riscaram o céu. Quando tudo se acalmou, Xangô olhou em direcção à cidade e viu que seu palácio fora atingido. Ele e Iansã correram para lá e viram que não havia sobrado nada nem ninguém. Desesperado, Xangô bateu com os pés no chão e afundou pela terra; Iansã o imitou. Oxum e Obá viraram rios e os 4 se tornaram Orixás.
(3)
Xangô é condenado por Oxalá comer como os escravos
Airá, aquele que se veste de branco, foi um dia às terras do velho Oxalá para levá-lo à festa que faziam em sua cidade. Oxalá era velho e lento, Por isso Airá o levava nas costas. Quando se aproximavam do destino, vira a grande pedreira de Xangô, bem perto de seu grande palácio. Xangô levou Oxalufã ao cume, para dali mostrar ao velho amigo todo o seu império e poderio. E foi lá de cima que Xangô avistou uma belíssima mulher mexendo sua panela. Era Oiá! Era o amalá do rei que ela preparava!
Xangô não resistiu à tamanha tentação. Oiá e amalá! Era demais para a sua gulodice, depois de tanto tempo pela estrada. Xangô perdeu a cabeça e disparou caminho abaixo, largando Oxalufã em meio às pedras, rolando na poeira, caindo pelas valas. Oxalufã se enfureceu com tamanho desrespeito e mandou muitos castigos, que atingiram diretamente o povo de Xangô.
Xangô, muito arrependido, mandou todo o povo trazer água fresca e panos limpos. Ordenou que banhassem e vestissem Oxalá. Oxalufã aceitou todas as desculpas e apreciou o banquete de caracóis e inhames, que por dias o povo lhe ofereceu. Mas Oxalá impôs um castigo eterno a Xangô. Ele que tanto gosta de fartar-se de boa comida.
Nunca mais pode Xangô comer em prato de louça ou porcelana. Nunca mais pode Xangô comer em alguidar de cerâmica. Xangô só pode comer em gamela de pau, como comem os bichos da casa e o gado e como comem os escravos.
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yansã |
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santa barbara |
Ele ficou na espreita e viu um búfalo vindo em sua direção.
Ogum avaliou logo a distância que os separava
e preparou-se para matar o animal com a sua espada.
Mas viu o búfalo parar e, de repente,
baixar a cabeça e despir-se de sua pele.
Desta pele saiu uma linda mulher.
Era Iansã, vestida com elegância, coberta de belos panos,
um turbante luxuoso amarrado à cabeça
e ornada de colares e braceletes.
Iansã enrolou sua pele e seus chifres,
fez uma trouxa e escondeu num formigueiro.
Partiu, em seguida, num passo leve, em direção ao mercado da cidade,
sem desconfiar que Ogum tinha visto tudo.
Assim que Iansã partiu, Ogum apoderou-se da trouxa,
foi para casa, guardou-a no celeiro de milho
e seguiu, também, para o mercado.
Lá, ele encontrou a bela mulher e cortejou-a.
Iansã era bela, muito bela, era a mais bela mulher do mundo.
Sua beleza era tal que se um homem a visse, logo a desejaria.
Ogum foi subjugado e pediu-a em casamento.
Iansã apenas sorriu e recusou sem apelo.
Ogum insistiu e disse-lhe que a esperaria.
Ele não duvidava de que ela aceitasse sua proposta.
Iansã voltou à floresta e não encontrou seu chifre nem sua pele.
"Ah! Que contrariedade! Que teria se passado? Que fazer?"
Iansã voltou ao mercado, já vazio, e viu Ogum que a esperava.
Ela perguntou-lhe o que ele havia feito daquilo que ela deixara no formigueiro.
Ogum fingiu inocência e declarou que nada tinha a ver,
nem com o formigueiro, nem com o que estava nele.
Iansã não se deixou enganar e disse-lhe:
"Eu sei que você escondeu minha pele e meu chifre.
Eu sei que você se negará a me revelar o esconderijo
Ogum, vou me casar com você e viver em sua casa.
Mas, existem certas regras de conduta para comigo.
Estas regras devem ser respeitadas, também, pelas pessoas da sua casa.
Ninguém poderá me dizer: Você é um animal!
Ninguém poderá utlizar cascas de dendê para fazer fogo.
Ninguém poderá rolar um pilão pelo chão da casa".
Ogum respondeu que havia compreendido e levou Iansã.
Chegando em casa, Ogum reuniu suas outras mulheres e
explicou-lhes como deveriam comportar-se.
Ficara claro para todos que ninguém deveria discutir com Iansã,
nem insultá-la.
A vida organizou-se.
Ogum saía para caçar ou cultivar o campo.
Iansã, em vão, procurava sua pele e seus chifres.
Ela deu à luz a uma criança, depois um a segunda e uma terceira...
Ela deu à luz a nove crianças.
Mas as mulheres viviam enciumadas da beleza de Iansã.
Cada vez mais enciumadas e hostis,
elas decidiram desvendar o mistério da origem de Iansã.
Uma delas conseguiu embriagar Ogum com vinho de palma.
Ogum não pôde mais controlar suas palavras e revelou o segredo.
Contou que Iansã era, na realidade, um animal;
que sua pele e seus chifres estavam escondidos no celeiro de milho.
Ogum recomendou-lhes ainda:
"Sobretudo não procurem vê-los, pois isto a amedrontará.
Não lhes digam jamais que é um animal!"
Depois disso, logo que Ogum saía para o campo,
as mulheres insultavam Iansã:
"Você é um animal! Você é um animal!!"
Elas cantavam enquanto faziam os trabalhos da casa:
"Coma e beba, pode exibir-se, mas sua pele está no celeiro de milho!"
Um dia, todas as mulheres saíram para o mercado.
Iansã aproveitou-se e correu para o celeiro.
Abriu a porta e, bem no fundo, sob grandes espigas de milho,
encontrou sua pele e seus chifres.
Ela os vestiu novamente e se sacudiu com energia.
Cada parte do seu corpo retomou exatamente seu lugar dentro da pele.
Logo que as mulheres chegaram do mercado, ela saiu bufando.
Foi um tremendo massacre, pelo qual passaram todas.
Com grandes chifradas Iansã rasgou-lhes a barriga,
pisou sobre os corpos e redou-os no ar.
Iansã poupou seus filhos que a seguiam chorando e dizendo:
"Nossa mãe, nossa mãe! É você mesma?
Nossa mãe, nossa mãe!! Que você vai fazer?
Nossa mãe, nossa mãe!!! Que será de nós?"
O búfalo os consolou, roçando seu corpo carinhosamente no deles e dizendo-lhes:
"Eu vou voltar para a floresta; lá não é um bom lugar para vocês.
Mas, vou lhes deixar uma lembrança."
Retirou seus chifres, entregou-lhes e continuou:
"Quando qualquer perigo lhes ameaçar,
quando vocês precisarem dos meus conselhos,
esfreguem estes chifres um no outro.
Em qualquer lugar que vocês estiverem,
em qualquer lugar que eu estiver,
escutarei suas queixas e virei socorrê-los."
Eis porque dois chifres de búfalo estão sempre no altar de Iansã.
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